Desde que Airton Senna morreu, eu havia assistido duas ou três vezes uma corrida de Fórmula 1. Domingo, dia 18/10 resolvi assistir ao GP do Brasil. Queria ver se dessa vez Rubens Barrichello conseguia sair vitorioso e se tornar o novo orgulho dos brasileiros, estava ansiosa para ouvir o Galvão Bueno (apesar de achar ele meio chato), gritar “Ruuuuuubens Barrichello do Brasil” e de ver Felipe Massa dando a bandeira final ao companheiro brasileiro.
Confesso que na largada, quando Rubinho saiu na frente e andou, andou e andou, fez vários melhores tempos, senti uma felicidade muito grande por ele. Achei o máximo ele lá, na frente e todo aquele povo na arquibancada sem piscar e tantos outros em casa sem piscar também. Pensava o mesmo que muitos brasileiros pensam. “Hoje vai dar certo, hoje ele vai conseguir, hoje é a dia dele”. Não foi, mais uma vez.
Um dia depois da corrida, na segunda-feira li em algum lugar uma declaração dele: “Só minha família e Deus sabem o quanto eu luto, o quanto eu sou guerreiro”. Essa frase me fez ver o quanto ele e nós somos parecidos, afinal, muita gente luta e não tem oportunidade. Outros tantos têm oportunidades, mas sempre uma pedra surge no caminho, alguém nos puxa o tapete e algo dá errado. Essa é a semelhança entre nós e Rubinho. A diferença é que alguns de nós desistimos, ele não.
Nunca tinha visto Rubens Barrichello com os olhos que vejo hoje. Na verdade, eu era como muitos brasileiros, indiferentes a ele, as derrotas, vitórias e dificuldades dele. Mas hoje, depois de acompanhar o quanto ele batalhou para dar a volta por cima nesse ano, eu admito que tenho que respeitar ele e até esboço sinais de admiração.
Muitos sabem criticar, zombar de todas as “quase” vitórias dele e tripudiam sobre todas as derrotas. Somos assim com os outros também. Não só com o Rubinho, com o time concorrente. Agimos assim com nossos conhecidos. Torcemos contra pessoas que de alguma forma podem manchar nossa própria imagem ou atrapalhar algum plano nosso. O ser humano é assim. “Ri da desgraça alheia” sem ao menos se dar conta do quanto isso dói para o outro e que mais dia menos dia, podemos ser nós “a bola da vez”.
Para mim, Rubens Barrichello se tornou um dos grandes exemplos de dignidade. Corrijam-me se eu estiver errada, mas eu nunca li ou ouvi em lugar algum ele se declarar um derrotado ou ele esboçar sinais de frustração contra a própria carreira e dizer que vai desistir. Muitas pessoas desistem de seus sonhos; ele adia e a cada ano chega mais perto. Isso me leva crer que devemos ter um pouco de Rubens Barrichello dentro de nossos corações. Precisamos lutar, lutar e lutar. Não contra os outros, mas a favor de nós mesmos e para isso, seguir o exemplo dele pode ajudar. Deixar que falem de nós, zombem de nossos tombos, puxem nosso tapete. Nossa maior resposta deve ser como a dele. O trabalho digno, guerreiro e digno.
Não importa quantos Schumachers vão surgir no seu caminho. Quantos pneus vão furar, quantas batidas vão acontecer, o que importa é não tirar o pé do acelerador que existe em nossos corações.
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