terça-feira, 8 de setembro de 2009

Quem somos ou deixamos de ser

Dias atrás escrevi sobre a nossa falta de coragem e alguns desejos que deixamos de lado, que não realizamos por pensar que seremos julgados e que vão nos achar loucos por de repente largarmos tudo e mudarmos nossas vidas.
Hoje o assunto é parecido. Estou lendo um livro da Alice Miller que fala dos desejos que reprimimos desde a infância por percebermos que nossos pais depositam outras expectativas sobre nós. Mesmo que eles não falem, inconscientemente, quando crianças, captamos esses desejos e muitos de nós passamos a viver em cima disso, em função dessas expectativas e por isso, reprimimos desejos próprios, em nome da felicidade de outros. Mascaramos nossos reais sentimentos e seguimos outros caminhos por acreditarmos que se seguirmos o caminho que queremos, estaremos fazendo nossos pais infelizes. Então, como não queremos decepcionar quem amamos, seguimos o caminho desejado por eles.
O livro fala sobre a questão psicológica do negócio. Sobre os problemas que esse tipo de atitude, de pais sobre os filhos podem refletir na vida adulta de uma pessoa e do quanto uma criança se sente intimidade e é levada ao silêncio.
É uma leitura que vale a pena. Tanto para pais (pai e mãe) como para filhos. Não há dúvida de que um grande fundo de verdade existe no pensamento da autora e que se pararmos para pensar, alguns de nós já vivemos ou vivem em função das expectativas de outras pessoas.
Afastamos nosso verdadeiro eu de nós e levamos a vida como os outros querem que ela seja e com isso surgem problemas de relacionamento entre pais e filhos, problemas de identidade e tantas outras dores que nunca são curadas por não reconhecermos a causa.
Vivemos uma vida toda nos iludindo, vivendo a vida de outras pessoas. Sustentamos aquilo que acreditamos que talvez possa nos fazer feliz um dia e assim, estaremos orgulhando quem projeta sonhos e expectativas sobre nós. Adiamos sonhos, boicotamos sentimentos e depois, ao nos tornamos pais, depositamos em nossos filhos as expectativas de que eles sejam como e o que nós gostaríamos de ter sido.
A repressão dos sentimentos na infância determina o adulto que seremos ou que deixaremos de ser. Sentimentos como vazio, privação, são mais comuns que imaginamos e como consequência, nos tornamos pessoas infelizes, amargas e fechadas. Deixamos guardado dentro de nós, no escuro da nossa alma as grandes realizações que gostaríamos de ter colocado em prática e como resultado disso tudo, deixamos brotar em nós sentimentos ruins como raiva, frustração, descontentamento e angústia.
O que quero dizer com isso tudo é que nem sempre a coragem que eu sempre acreditei e defendi ser necessária para grandes realizações, é o que nos falta para sermos grandes. Nem sempre nossa “loucura” ou atitudes ousadas são suficientes para sermos felizes. Às vezes, basta olha para trás, conhecer nosso passado, entender o que nos faz sentir dor e aprender a lidar com isso poder nos ajudar a não nos perder num mundo de sentimentos e passarmos a viver num universo de grandes realizações.

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